cata vento
diários e imensidões
Agorasou eu mesma
I por Cidinha Ribeiro
Desde 21 de junho de 1950, logo há 73 anos, habito o macrocosmo. Em dúvida se existo ou não existo, me belisco vez ou outra. À primeira vista, me parece que não existo porque não sou nem mesmo um pingo ou uma gota dentro do Universo. No entanto, estou aqui, bem concreta. Eu, minha mais doce ilusão.
Mistério à parte, nasci e recebi um nome esquisito, o nome da minha avó. Amparada pela Lei 14.382/22, conclui que não deveria mais ser identificada por um nome que não me representava. Não era possível me chamar Alcídia além desses anos já vividos. Então mudei meu nome.
O processo de regularização está apenas começando. Já tenho certidões de nascimento e de casamento. Depois de 52 anos de convivência, a história a dois recomeçou, com direito a lua de mel. Afinal, sou outra mulher.
Tenho RG. Estou à espera da confirmação do meu CPF e do recebimento da minha carteirinha do plano de saúde. Comuniquei ao departamento de pessoal do órgão público, pelo qual me aposentei, que sou nova por ali. O resto é com os servidores da ativa.
A atualização de meus dados bancários, inclusive novo cartão de crédito, vai demandar uma viagem. O procedimento acontece de forma presencial. Viajar é bom. Farei isso qualquer dia. Num segundo momento, cuidarei das averbações em escrituras e outras providências de somenos.
Meus filhos, necessariamente, foram envolvidos na história. Eles têm outra mãe. Um imbróglio. Mas foram solidários. Concordam que ninguém poderia se chamar Alcídia por mais que 73 anos.
Continuando as celebrações de meu aniversário, publiquei meu “O Sol deixa marcas no chão”, um livro de crônicas, sem o rigor da técnica. Quem preferir poderá dizer que são contos. Outros poderão afirmar que são crônicas mesmo. Que importa? Não estou concorrendo a nenhum prêmio. Só quero o prazer de escrever. Nessa aventura, contei com a participação da Michele Fernandes, a quem agradeço a orelha do livro .
No segundo semestre, publicarei meu “Eva no tempo” em parceria com algumas escritoras do Coletivo Escreviventes, ao qual pertenço por escolha e afinidade. O que não poderia acontecer seria me submeter ao prognóstico de idosa improdutiva com base na idade cronológica.
Não acumulei tantas experiências e conhecimentos adquiridos com grandes mestres para me submeter ao limite da capacidade para o trabalho intelectual imposto pela crendice popular, sem nenhuma base científica.
No entanto, para que a realidade tenha o tamanho do desejo pessoal é preciso comprometimento, empenho e dedicação. Nada cai do céu. Nada é fácil, nem existir. Afinal, a confirmação da existência humana enfrenta dúvidas. Quem somos nesse imenso macrocosmo?
Mineira nascida em Itapecerica e canceriana, sou deste jeito: alegre, afetuosa, romântica
e determinada. Sou avó do Rafael e do Miguel e mãe adotiva de nove cachorros. Gosto
de dançar, de conversar e de rotina. Leitora, escritora e paisagista, coleciono livros
físicos e uma infinidade de plantas. Pedagoga de formação e aposentada, nunca perdi o
interesse pela Educação e seus (des)caminhos. Dados sobre minha produção literária estão no perfil @umasenhoraescritora.
Cidinha Ribeiro