prosa e verso
muito do que temos a dizer
A mulher de olhos de arrepio
I por: Bárbara Anaissi
Foto: Bárbara Anaissi
Sou jornalista e especialista em formação do leitor em múltiplas linguagens. Estou no mundo dos livros desde 1993 atuando em diversas áreas. Em 2015 fundei a Macondo Casa Editorial onde, com minha sócia e um grupo de parceiros e amigos,
trabalho projetos editoriais e educacionais que despertem afetos e sorrisos. Tenho textos nas coletâneas Biblioteca e ações de leitura e Quantas portas cabem numa porta?.Livros, cachorros, sol, mar, vinil, conversas e amores me ocupam por inteiro.(@barbaraanaissi / @macondocasaeditorial).
Entro no barco. Mareio olhos e cabeça.
Saímos.
Água e verde. Água e verde. Água e verde.
Pássaros de cores tantas.
Sol queima e cega.
Som de rio. Cheiro de rio.
Ar de floresta.
Muito para pulmão urbano.
Estou no barco. Mas não estou.
Matapi.
Casas ribeirinhas sorriem.
Povo ribeirinho acena.
Água e verde. Água e verde. Água e verde.
Silencio olhar de cidade. Tento aprender olhar de
mata e rio.
Chego.
Do barco para a casa.
Não há paredes.
Há Marisa e Catarino.
E Chiquinho, Cavalo Marinho, pretos e pretas velhas,
caboclos, encantados.
Areal de Matapi.
Corpo no rio, cabeça que não chega.
Rede, prosa, peixe, açaí, bacaba.
Voz de Marisa. Olhar de Catarino.
Rio enche. Folhas dançam. Rio vaza.
Banho, banho, banho, banho, banho.
Voz de Marisa.
Sono em ar livre. Da outra beira do rio,
olhos da floresta.
Vigiam.
Sono bom que há muito não vinha.
Corre o rio aos nossos pés. Leva tanto o rio…
Acordo.
Céu grita de sol.
Floresta mostra todos seus tons de verde.
Rio corre manso.
Catarino faz café na varanda.
Catarino, gigante gentil.
Todos comem com rio aos pés.
Marisa olha e olha e olha...
Quando olho de Marisa pousa em olho outro,
arrepia.
Pousa no meu: — Moça?
Paraliso...
Marisa sabe mais da gente do que a gente.
Mestre Poraquê? Cavalo Marinho? Vovó Redonda?
Boto?
Todos.
Todos falam em Marisa.
“Pajé”
É como gosto de chamar a mulher de olhos de arrepio.
A que já é mãe de todos.