pode entrar
crônicas do cotidiano
Depois de tudo, tem mais
I por Nanda Guimarães
Ei, vim me desculpar por ter desistido da gente. Por querer mais do que só companhia. Por sonhar com presença.
Não pense que os erros foram exclusivamente seus. Erramos, os dois.
Nos desencontramos em alguma parte da estrada. Eu quis olhar pra além de nós, você enxergava só um, quando, pra mim, parceria é feita de dois inteiros que decidem se escolher todos os dias.
Será mesmo que erramos?
Pensando bem, acho que não.
Só mudamos. Depois de tantos anos, é natural que sejamos outras pessoas. E as nossas novas pessoas não se escolheriam, bem provável que nem se esbarrariam por aí.
Imagina eu dançando, rindo, bebendo o quinto pint de IPA e você sentado contando. Com 30, algumas diferenças parecem realmente excitantes, mas com 40 não dá pra colocar tudo na conta do fetiche.
Querer alguém que contraponha à nossa falta, que acenda luzinhas apagadas ou insistir em ter um outro alguém naquela pessoa é conversa pra terapia.
Analisa aí suas dores, tô analisando as minhas.
Vez ou outra, faz bem olhar só pra si, fazer as próprias escolhas, deixar de colocar o outro no centro do mundo.
Se aconchegue na solidão, não tenha medo. Ela vai fazer morada, ser a única companhia pro café e noites insones. Não tô falando da tal solitude, tô dizendo se ver totalmente sozinho. Mesmo!
Esse processo ensina a lutar pra chegar no dia seguinte, exercita a nossa compaixão, traz um olhar mais generoso para os nossos buracos.
Vou te contar um segredo. Nossos abismos escondem lugares que só a gente pode entrar. E é um caminho sem volta. Não dá pra “desver” o que vimos por lá.
Mas é aí que o deslumbramento acontece. Depois de se encolher, se afogar na frustração, você pode se deixar engolir ou submergir. Vai voltar mais quebrado, porém, mais consciente.
Dói! Deixa doer.
Encara suas feridas, cuide de cada uma delas, não busque alguém pra fazer isso por você. Aprenda a estar só.
Assim, quem sabe, você esteja pronto pra partir novamente nessa viagem maluca, entrar em outro coração e permitir que conheçam o seu.
“Todo fim é um recomeço” não é totalmente verdade. Acredito que todo fim é uma oportunidade.
Se não aprendemos com o que acabou, vamos só reprisar a história, mudando os personagens.
Anseio por outros caminhos, por trilhas de mata fechada, abraços com gosto de sossego, pescoço com cheiro de “mora aqui” e uma cama que esconde coisas que eu não conheço.
Então, eu te deixo, pra começar de novo.
E desejo que você consiga ir.
Era um pedido de desculpas, mas, agora, pensei em dizer obrigada.
Eu sou a Nanda, mulher, mãe, escriba em desenvolvimento, contadora de histórias, caçadora de estrelas, apoiadora de mulheres, entusiasta da vida e do amor, das miudezas, dos sentimentos que viram palavras. Sou a pessoa por trás do Instagram @palavraemprosa e me aventurei na coragem pra colocar na pontinha dos dedos o que pulsa aqui dentro.