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Coletivo Letra Miúda e Macondo Casa Editoral na volta do Circuito Interno Bhering.
Fotos: Leonardo Ribeiro
Livraria da Fábrica inclui Literatura
no Circuito Interno da Bhering
Quem já teve a sorte de entrar na antiga fábrica de chocolates, no Santo Cristo, Zona portuária do Rio, entende o poder que é ocupar os quase 15 mil metros quadrados do prédio histórico do final do século XIX com as vozes de diferentes artistas. Entre os ateliês, lojas, oficinas, galerias, bares e cafés está a Livraria da Fábrica, no terceiro andar do edifício. O espaço de 100m2, idealizado e gerido por Felipe Varella, está de portas abertas desde 2011 e reúne mais livros antigos (muitos são raridades) do que novos, discos em vinil e algumas peças de colecionadores.
Quando soube da volta do Circuito Interno da Bhering – criado em 2012 e interrompido na pandemia – Felipe propôs ao diretor da Fábrica, Ruy Barreto Filho, a inclusão de uma Feira Literária na programação do evento, que voltou a abrir as portas dos ateliês, galerias e lojas com atividades especiais para o público, no primeiro sábado de cada mês.
“Queria que o andar fosse aquecido com a presença de pequenas editoras e pessoas que vivem de livros. O primeiro evento foi um sucesso e a ideia é ter ainda mais convidados nas próximas edições, para fortalecer a feira e essas editoras. Não queremos ser uma grande feira. Temos um tamanho justo para um público alternativo que não consome bestsellers.”, avalia Felipe.
A primeira edição aconteceu no dia 7 de setembro e contou com autoras ligadas ao Coletivo formado pela Macondo Casa Editorial e a revista Letra Miúda e ilustradores independentes no entorno da livraria, que recebeu também a escritora Luciana Figueiredo, a ilustradora Marília Pirillo e a contadora de histórias Julia Grillo em atividades de interação com o público.
“O Circuito interno da Bhering estava fazendo falta e a ideia do Felipe Varela de incluir Literatura nessa roda foi incrível. A ocupação de espaços físicos nos empodera enquanto coletivo, mulheres e empreendedoras e aproxima a relação com outras pessoas, com interesses afins. Seguiremos juntos nas próximas e temos certeza que essa parceria ainda vai gerar muitas coisas legais”, conta Laura Souza, que divide com Bárbara Anaissi as rédeas da Macondo Casa Editorial.
As duas sócias também fazem parte do conselho editorial da Revista Letra Miúda, ao lado das idealizadoras Fernanda Baroni e Natália Fonseca, e todas fazem coro sobre a parceria com a Livraria da Fábrica:
“A revista Letra Miúda foi criada para espalhar as vozes de escritoras independentes. Ficamos muito felizes com o convite para participar da primeira edição da Feira Literária da Bhering, divulgando a revista, os livros de algumas de nossas colunistas e trazendo a escritora Luciana Figueiredo e a ilustradora Marília Pirillo para um bate-papo sobre a obra Como se lê um livro. Foi tudo muito especial. O ambiente, as pessoas valorizando e voltando a consumir todas as formas de arte. Tudo contribuiu para a sensação de estarmos no lugar certo, na hora certa.”
A ilustradora Marilia Pirillo e a escritora Luciana Figueiredo promoveram um bate-papo sobre a obra Como se lê um livro, na Livraria da Fábrica
Papo reto com Felipe Varella
Como surgiu a Livraria da Fábrica? Desde quando está aberta?
Eu tinha uma distribuidora de livros usados que atuava no Rio, São Paulo e Minas mas, em 2008, precisei fechar e comecei a vender pela Estante Virtual. Em 2011, uma amiga, que é ceramista e montou seu ateliê no terraço da Bhering, me fez o convite de conhecer o local e eu adorei. Comecei com 40m2 e, um tempo depois, ocupei o espaço que estamos hoje, no terceiro andar.
Manter as portas abertas é um ato de resistência? Como você avalia o cenário das livrarias físicas nesse momento de boom das compras digitais?
De uma certa forma, sempre será. O mercado digital é fortíssimo. Meu arroz com feijão ainda vem do digital, mas vejo as vendas presenciais voltando a crescer. A volta do Circuito Interno é um super gás para a venda física, mas estamos sempre pensando fora da caixinha. Costumo dizer que a livraria vende até livros, mas que é um espaço de cultura – promovemos eventos de música, lançamentos, workshops, contação de histórias.
Como surgiu a ideia de montar uma Feira Literária no Circuito Bhering?
Conversei com o Ruy e propus que o andar fosse aquecido com a presença de pequenas editoras. E a gente sabia que isso também aqueceria o prédio como um todo. A ideia é chamar outras editoras nas próximas edições e que essas pessoas possam se fortalecer com a ocupação desse espaço.