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desa fios

bordando conversas

Muito prazer, sou uma escritora

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A primeira vez que me percebi escritora foi em um lançamento de livro infantil, só que o livro em questão não era nenhum dos meus. Vi, ali, que seria possível colocar no papel impresso as histórias que já havia criado. Era 2020 e comecei, em plena pandemia, a busca por editoras pequenas, dessas que imprimem baixas tiragens. Meus três primeiros livros foram publicações independentes, com tiragens de 200 a 300 exemplares, a um custo relativamente alto, depois de muitas conversas on-line com ilustrador e editora. Quando ficaram prontos, conheci uma nova alegria: a de poder dizer “prazer, agora sou escritora”.


O custo da autopublicação, embora não seja pequeno, acaba se pagando se você conseguir vender os exemplares em plataformas on-line ou mesmo no boca a boca, para os amigos. Na minha vivência, as redes sociais têm sido boas aliadas na hora de fazer o livro circular e encontrar novos leitores.


Em 2022, tive outro tipo de experiência: a publicação de dois contos em antologias. Nessas, não tive nenhum investimento, nem remuneração. O primeiro é um conto infantil, que divide as páginas do livro “Quantas portas cabem numa porta?” com outros 16  autores que fazem parte da Oficina de Escrita Criativa da Anna Cláudia Ramos, que, além de organizar o livro,  também assina um dos textos.


O “Portas” foi um divisor de águas, em especial por me mostrar que a literatura também pode contribuir com a realidade social, já que os escritores doaram os direitos autorais para a ONG Fraternidade sem fronteiras. O projeto saiu pela

Editora Casa do Lobo, num modelo que contou com pré-venda em uma plataforma de financiamento coletivo. O outro conto foi publicado no livro “O vendedor de sofás”, junto com mais 60 autores selecionados em um concurso de microcontos realizado pela Editora Ipê Amarelo, que bancou todos os custos de impressão, premiou em dinheiro o conto vencedor e deu aos demais autores uma contrapartida em exemplares.


No fim de 2022, me vi numa encruzilhada. A dúvida se instalou: iniciar o doutorado em Literatura ou continuar investindo na carreira de escritora? Escolhi a segunda opção e disse a mim mesma: não vou mais pagar para publicarem os meus livros, quero, agora, receber pelas minhas histórias.


E, assim, cheguei a outro formato: o de escrever textos sob encomenda para um recém-lançado clube de leitura para crianças, que precisava de histórias inéditas para levar às famílias assinantes. Três textos meus foram aceitos para publicação. Confesso que senti certa dificuldade ao escrever seguindo um briefing dado pela curadoria do clube – que elenca tema e enredo – e algumas histórias tiveram que ser reescritas para caber dentro do projeto. Mas considerei a experiência válida, afinal, eu seguia firme em direção ao que eu havia planejado: receber pelo que criava.


Agora, estou vibrando com uma outra novidade. Após escrever uma história voltada para a primeira infância, mandei e-mails para mais de vinte editoras. Sim, eu disse vinte, você não leu errado. E uma delas acaba de me retornar, dizendo que o texto foi aprovado e será publicado, no mais tardar, até janeiro de 2024.


Se estou feliz? Muito! E não me arrependo de ter trilhado todas as etapas desse caminho. Não considero que nenhuma das opções seja exclusivamente a certa e acredito que todas me credenciam como escritora. Afinal, foi a autopublicação que me permitiu ver que esse sonho era possível e, agora, me permite olhar mais ao longe, sem nunca me esquecer da criança que um dia fui. É para ela que sigo escrevendo.

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