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nossas vozes

escritas ancestrais

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Saberes da Floresta

Márcia Kambeba
Editora Jandaíra

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Amkoullel: o menino fula

Amadou Hampâté Bâ
Editora Palas

O futuro é ancestral 

A educação nas tradições orais indígenas e africanas

I texto: Dayane Teixeira I ilustração: Janaína Esmeraldo

"Quando você não souber para onde ir,  lembre-se de    onde você veio." - provérbio africano

Quando falamos de outros caminhos para a educação e para a humanidade, precisamos nos cercar de referências ancestrais. Fazer o movimento Sankofa: olhar para nossos antigos e o legado deixado por eles. Pensando nisso, referencio, aqui, dois intelectuais e suas respectivas obras, que tratam de uma educação e construção social a partir dos saberes tradicionais: A poeta, geógrafa e ativista indígena brasileira Márcia Kambeba, com Saberes da floresta (Edit.Jandaíra), e o escritor malinês Amadou Hampâté Bâ, com Amkoullel: o menino fula (Edit. Palas).

Os dois livros estão em total sintonia, uma vez que narram, cada um a seu modo e partindo de suas experiências, os desdobramentos e efeitos causados pela colonização. O princípio básico dessa dupla herança da qual descendemos está pautado na tradição oral que, segundo Hampâté, nada mais é que
 

uma gama de conhecimentos, transmitidos de geração a geração, de mestre a discípulo, ao longo dos séculos, e que serve para criar um tipo de homem particular.

 

E é sobre esse Ser particular que os dois autores falam, quando denunciam as falsidades perpetradas pela História Oficial e suas práticas epistemicidas, de sobreposição de culturas. Ao apontarem o antagonismo entre a escola tradicional e o que chamam de “escola dos brancos”, trazem à tona o constante desafio de ser/estar inserido a contragosto num sistema educacional marcado por uma lógica distinta, hostil e segregacionista, que não leva em consideração outras formas de existência.

Apesar dos ecos nocivos dessa imposição, Márcia e Hampâté nos mostram como burlaram o aparelho colonial, aprendendo sua língua e valendo-se dela como arma de luta e resistência. Contando suas próprias histórias, expõem perspectivas e vivências individuais que se dão pela coletividade. Seus escritos mencionam valores opostos aos ocidentais, em que o ser humano não está apartado do meio em que vive; sua relação com a natureza não é predatória.

As vivências narradas na floresta e nas aldeias nos mostram que faz parte da educação indígena e africana saber ouvir, se comunicar e interagir com os elementos da natureza, buscando sempre o equilíbrio por meio dessa relação recíproca de respeito. Como diz Márcia Kambeba, na aldeia tudo é ensinamento, tudo é escola, desde o banho de rio, até a tarefa de buscar água.


A autonomia das crianças é outro ponto de confluência entre os autores, pois os pequenos têm suas potencialidades reconhecidas e constantemente trabalhadas. A eles são atribuídas funções – assim como acontece com os adultos –, que lhes proporcionam sentimento de pertencimento e senso de responsabilidade dentro do(s) grupo(s).

 

A concepção do tempo também está elencada nas duas obras. O tempo de aprendizado nas aldeias é diferente do tempo da escola dos brancos. O que já passou não passou, ainda é. Por isso os ancestrais não são figuras longínquas de um passado remoto, pelo contrário, são presença marcada no dia a dia das novas gerações.

O uso da palavra permeia o dizer, o narrar, o repetir, que são estratégias de ensino. Da mesma forma que ouvir, sentir e decorar estão atrelados à ideia de memória e reconhecimento identitário. Sentar para ouvir as histórias e ensinamentos de um ancião, um pajé, um tradicionalista, ou mesmo o vento que bate na copa das árvores, faz parte da dinâmica de ensino-aprendizagem cotidiana, tanto na cultura original indígena, quanto na africana. Assim são disseminados valores, ética, modos de se relacionar, preservação da memória ancestral, valorização de identidades e da pluralidade. 

Como diz o mestre Hampâté,

 

a fala pode criar a paz, assim como pode destruí-la. É como o fogo. Uma única palavra imprudente pode desencadear uma guerra, do mesmo modo que um graveto em chamas pode provocar um grande incêndio.

 

O futuro é ancestral!

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texto: Dayane Teixeira

Sou mulher cearense tentando resgatar meus laços ancestrais, formada em Letras, atuante na área de museus, membro do Coletivo Tradição Viva, pesquisadora independente de Literatura Africana, Negro-brasileira e Indígena brasileira, idealizadora da página literária @sy_jigeen e também autora do livro de poesias Corpo-concha.

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ilustração: Janaína Esmeraldo @cabelonuvem

Gosto de histórias simples sobre pessoas e sentimentos, comidas, plantas e bicicletas. Sou de Fortaleza e moro em Recife, onde faço quadrinhos para contar as aventuras de uma pessoa comum e curso Artes Visuais na UFPE. Publico a newsletter de quadrinhos Cabelo-nuvem desde 2016 e já lancei, de maneira independente, as zines Recife (2018), O Caminho da Artista (2022) e a coletânea Cabelo-nuvem (2022).

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