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entre linhas

literatura para voar

Os livros e as crianças  

I  por Natália Fonseca

Como boa mineira que sou, uso muitos diminutivos. Quase nem percebo, é mais forte que eu. Mas tem um diminutivo que amarela meu sorriso. Na verdade, dois.


Livrinho.


Historinha.


Porque não é carinhoso. Vem de um lugar que despreza o que é dos universos das crianças. Que acha desimportante. Pequeno.


Mas as crianças são importantes. São imensas. E a Literatura é importante. É imensa. Ela gera encantamento, medo, angústia, risos, lágrimas, estranhamento, conforto. Ela faz refletir, questionar, descobrir. Ela transforma. Não deveria haver lugar para lições de moral rasas, para falta de cuidado, para uma visão utilitarista e didatizante, para uma tentativa de homogeneização e higienização das infâncias.


Infâncias, no plural mesmo. As crianças de quatro anos não são todas iguais, tampouco as de oito, ou onze. Ou as que vivem nas cidades grandes. No interior. Na praia. Na favela. Nas zonas de guerra. Nas florestas. As que não fazem todas as refeições. As que não são abraçadas. Como são suas famílias? Elas têm família?  Elas têm acesso ao quê? Do que elas gostam? Do que têm medo? Do que brincam?


Os livros podem ser espelho e janela para essas crianças, para que elas se vejam refletidas e para que vejam o mundo.


Claro que há muitos textos que dialogam, de formas diferentes, com crianças, adolescentes e adultos. Mas isso não descarta a importância de obras que se comuniquem diretamente com as crianças. E, embora haja diferenças na forma como essas histórias serão lidas e escritas, a busca por uma estética literária rica deve ser a mesma.


Muito mais do que um processo de decifrar letras, a Literatura para as infâncias tem a ver com conexão. Com curiosidade. Com observação. Ao ler com as crianças, estamos falando de tanto!  Falamos de colo, de escuta, de abrir portas, de diálogos potentes, de criação de repertório, de imaginação, de senso estético, de arte, de dilemas, de escolhas, de abstração, de sombras e luzes, do contraditório, de compartilhamentos…


Ao ler com as crianças (e ao escrever para as crianças), falamos de estabelecer uma relação própria com a Literatura e com a vida.


E por isso aqui reforço algo que nem deveria estar em pauta: não tem nada de diminutivo. Literatura Infantil é Literatura.

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Sou a que sempre se sentiu em casa entre os livros. A que hoje é tradutora, mãe, imigrante, bebedora de café. A que fala de livros e infâncias no perfil @oquelemoshoje. A que resolveu ouvir a criança que foi e se dizer escritora, que escreveu Alto até o céu (Ed. Saíra), participou da antologia Quantas portas cabem numa porta? (Ed. Casa do Lobo). A que não consegue acreditar na sorte de editar essa revista com a Fernanda Baroni. A que ainda faz da Literatura sua casa.

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