conta mais
mercado editorial
Pode entrar,
a casa é nossa!
I texto: Bárbara Anaissi
ilustração: Elê Nogueira
Aos 15 eu li Cem anos de solidão pela primeira vez, lá nas cadeiras do Pedro II. Muito mais que um livro de cabeceira, esse Gabo me arrebata desde então. É aquele que sempre leio nos recomeços. Que me faz respirar e impulsiona.
O trecho das mariposas amarillas que precedían las aparaciones de Mauricio Babilonia me deixou em assombro na primeira leitura. O ar ficou em suspenso e algo absolutamente novo se abriu. Custei a entender, perdi a conta de quantas releituras fiz daquelas palavras. Tenho sempre saudades desse momento de início de tanto... As palavras que definiram minha trilha e minhas teias no latifúndio profissional.
Seis anos depois, em 1993, entrei no mercado editorial. Em 2015, por necessidade contábil, abri uma empresa. E o nome não poderia ser outro… Mas a Macondo ficou parada por alguns anos assim, fantasiada em apenas um nome, um CNPJ.
Quando 2017 chegou eu trabalhava com Laura Souza, publicitária também mordida pela labuta literária, em ambiente mergulhado em machismo, misoginia, mansplaining, racismo, homofobia. Ambiente como tantos outros nesse mercado romantizado. Sufocadas, nos rendemos ao desejo de estar com gente como a gente. Contei pra Laura sobre as mariposas amarillas e a contaminei no assombro.
E assim a Macondo Casa Editorial foi se transformando. Deixou de ser só um CNPJ e virou a nossa casa. Uma casa editorial para trabalhar com autores iniciantes, autopublicação, orientação e produção editorial para esse nicho. Até que, em 2018, uma grande editora nos contratou para produção de conteúdo para o PNLD Literário.
E, trabalhando aos sorrisos sem ver o tempo passar, percebemos que a Macondo tinha, de fato, nascido.
Com o PNLD caminhamos na nossa paixão do início ao fim: desde a produção editorial das obras, passando pelos materiais para professor e aluno até a entrega final. Pensar no que cada criança e adolescente sente ao ler as linhas que nós preparamos para eles nos conectou com o objetivo que a Macondo tinha quando ainda era apenas um querer.
Construída em chão firme de terra há muito batida, essa casa hoje reúne parceiros que nos acompanham na sala de escritório e de estar em criação coletiva e afetuosa, como Anna Claudia Ramos, Mauricio Planel e Luciana Figueiredo.
Hoje podemos dizer que a Macondo abriu suas portas para projetos variados: literatura, educação, cultura, biblioterapia, formação do leitor… E seguimos sempre nos reinventando e deixando as portas de casa abertas para quem quiser entrar
- de trabalhos a pessoas, de empresas a parceiros e colaboradores.
Junto com gente fina, elegante e sincera que chegou pra ficar, transitamos entre um grande grupo editorial e autores iniciantes; mesa de escritório e cadeira da escola; crianças e adultos; literatura e pedagogia. Ensinamos e aprendemos.
E quando juntamos em mesa de bar ou no sofá de casa os amigos que fizemos nesses cinco anos, não resta nenhuma dúvida sobre nossa escolha pelo trabalho afetuoso. Há quem ache piegas, há quem ache ingenuidade, há quem ache que falta seriedade. Pra mim e pra Laura é coisa boa da vida, é benção, é sorte, é suor. Saravá, Macondo! E que Gabo nos acompanhe.
Sou jornalista e especialista em formação do leitor em múltiplas linguagens. Estou no mundo dos livros desde 1993 atuando em diversas áreas. Em 2015 fundei a Macondo Casa Editorial onde, com minha sócia e um grupo de parceiros e amigos, trabalho projetos editoriais e educacionais que despertem afetos e sorrisos. Tenho textos nas coletâneas Biblioteca e ações de leitura e Quantas portas cabem numa porta?.Livros, cachorros, sol, mar, vinil, conversas e amores me ocupam por inteiro.(@barbaraanaissi / @macondocasaeditorial)
Ilustração: Elê Nogueira
Me chamo Elê Nogueira. Cursei História da Arte (UERJ), Artes Plásticas (UFRJ), Licenciatura em Ed. Artística (Bennet) e Design Gráfico Digital (Senac). Sou carioca, mas meu coração se enche de felicidade em saber que meus trabalhos estão espalhados por esse mundão. Dezenove das minhas telas fazem parte do acervo permanente do Banco Mundial, em Washington – DC. Para mim, o desenho é uma das mais lindas formas de linguagem e expressão. Você pode ver alguns dos meus trabalhos nos perfis @poesiacoladacomigo e @favelinhavertical.