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isto e aquilo

um olhar poético

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Por que escrever?

I   por Viviane Lucas

Em seu livro Cartas a um Jovem Poeta, o escritor Rainer Maria Rilke orienta o jovem Franz Kappus: “investigue o motivo que o impele a escrever; comprove se ele estende as raízes até o ponto mais profundo do seu coração, confesse a si mesmo se o senhor morreria caso fosse proibido escrever.”

Releio essa reflexão e confesso que tem sido difícil escrever nos últimos dias. Começo e paro. Tudo parece pouco, diante do espanto pelo que nos cerca.

Leio notícias sobre a guerra, tão distante e ao mesmo tempo tão perto, e não encontro palavras para dar conta do horror.  Outras guerras acontecem ao nosso lado, disfarçadas pela normalidade cotidiana, nas ruas, esquinas e sinais de trânsito, que expõem a vida na sua forma indigna e desumana.

Vazia de palavras, escrevo em busca de ar, numa tentativa de respirar por outras vias. Como se a palavra fosse um colete salva-vidas, me agarro a ela, buscando amenizar meu estado de ser gente, forte e frágil, simultaneamente.

A palavra humana – escrita, contada ou cantada – funciona como um bálsamo na pele que arde, como os sonhos que nos possibilitam suportar a realidade, por vezes incompreensível e dura de ser encarada em plena consciência.

Então, puxo um fio de esperança e busco imagens e palavras, faço nascer alguma nova, viro do avesso, remexo a caixa de afetos e escrevo para reiniciar a vida e curar as feridas.

Escrevo, mesmo sem ter a dimensão exata do alcance das minhas palavras, mas por acreditar que a literatura e a arte em geral são as frestas por onde entra a luz, dando acesso ao mundo simbólico, à imaginação e à construção de novos significados.

Escrevo por acreditar que a linguagem nos conecta com o sentir do outro e que a literatura é um encontro entre quem escreve e quem lê, um diálogo silencioso, alheio ao tempo e à distância, capaz de acolher, abraçar e compartilhar experiências e emoções.

Provocar encantamento, alimentar sonhos, produzir voz e silêncio. Eis o poder da literatura.

Escrevo para deixar palavras no meu lugar, como conchas deixadas na areia pelo mar. Para ficar, ainda que eu não esteja. Para permanecer nas bocas, nas folhas amareladas, na memória onde não passa o tempo.

Escrevo, pois ainda que em fragmentos, serei sempre e inteiramente um encontro.

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Sou psicóloga, professora e escritora. Em 2022 publiquei o livro de poemas "Andarilha" (Ed. Lura). Um sonho, um respiro. Uma forma de dança. Acabei de lançar meu segundo livro. “Um lugar pra guardar imensidões é uma coletânea de poemas que falam das miudezas e grandezas da vida. Já participei também das antologias "Crônicas da Manhã" e "Onde canta o Sabiá" e sopro minhas palavras no Instagram @contosdaluanova.

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