pode entrar
crônicas do cotidiano
Pra seguir em frente,
é preciso olhar pra trás
I por Nanda Guimarães
Um novo ano abrindo a porta, resoluções, conclusões, inícios de ciclos. Esperançar o novo, ambicionar outras rotas, escrever num caderno com cheiro de estreia. Pra mim, antes do novo chegar é preciso olhar pra trás e abraçar o percurso.
Sinto imenso prazer em me olhar nua, sem as vestes sociais. Gosto das minhas conversas honestas comigo mesma.
É nessa hora, ao abrir a porta pra esses 365 dias, que elas são mais francas e também generosas.
Parei agora pra ter esse tête-à-tête, numa prosa que tem gosto de recomeço. Chorei, ri, senti orgulho, me abracei por alguns instantes e, no fim, suspirei todas as dores entaladas aqui dentro.
Olhei para os dias bons com a certeza de que passeei em estrelas cadentes, construí pontes de arco-íris e falei idiomas que só outros corações são capazes de compreender. Vi os dias difíceis com a clareza do inevitável, mas com a mansidão de quem não foge das próprias escolhas.
É isso né?! O balanço tem que ser feito.
Acho mesmo que pra ter valido a pena, no final, a gente tem que ser invadido da sensação de “eu vivi”. Eu vi a coreografia e dancei. Eu coloquei a música e ouvi. Eu cantei todos os trechos do meu livro, não me furtei de sentir e desmoronei, levantei, fiz brigadeiro, me envolvi nos sabores, aninhei outras pessoas, tive colo, não me escondi do prazer, gozei.
Eu, agente da minha vida.
É claro que precisei parar vez ou outra, recalcular a rota. Mas segui. Desisti de alguns planos - não sou boa com isso - planejar, listar, seguir roteiros.
Aceitei derrotas, reconheci que precisava perder. Não briguei com o abismo, olhei no fundo dos olhos da dor. Sustentei.
Eu vivi!
Vivi os pores-do-sol, contei os dias dos meus filhos - que em 2023 pareciam anos inteiros, inventei datas especiais, colecionei sextas-feiras com os amigos, esperei pelos domingos com os meus, desejei mais horas numa noite, mais dias numa semana e que alguns meses acabassem no dia 15.
Quis acreditar no amor e falhei. E mesmo assim amei mais do que na vida inteira.
Suspirei. Abracei. Deixei ir.
Olhei pra trás uma última vez, agradeci e tô agora abrindo caminho pro novo.
A gente se encontrará em 2024, nesse maracatu que a vida nos convida a dançar. Então se movimenta, deixa fluir, se solta, escuta a música, aceita o convite.
Promete viver aí, que eu me comprometo com a vida aqui.
Nanda Guimarães
Eu sou a Nanda, mulher, mãe, escriba em desenvolvimento, contadora de histórias, caçadora de estrelas, apoiadora de mulheres, entusiasta da vida e do amor, das miudezas, dos sentimentos que viram palavras. Sou a pessoa por trás do Instagram @palavraemprosa e me aventurei na coragem pra colocar na pontinha dos dedos o que pulsa aqui dentro.