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Primeiros passos na trilha da publicação

Primeiros passos nas trilhas da publicação

I   por Bárbara Anaissi

O nascimento de um livro é um encanto que não me cansa. Uma simples ideia na cabeça de alguém vai tomando páginas e mais páginas e mais páginas... A ansiedade do autor é a minha ansiedade. Suor, noites em claro, conversas, páginas deletadas, pesquisa, escrita e reescrita, mesa com pilhas e pilhas de referências...

 

De repente, no meio da noite, você acorda e acha aquela palavra exata para aquela frase no meio daquele capítulo. O entusiasmo toma conta de tudo, toma conta da vida!

 

São 30 anos de mercado editorial em diversos lados do balcão. E ainda parece mágica.

 

Mas a mágica precisa de uma trilha. O tão falado, temido e adorado caminho entre autor e editor. As páginas estão prontas, o encanto e o suor do autor estão ali formatados em um arquivo. É só “enter” para o editor. Mas chega a enxurrada de velhas perguntas que tiram o sono: "Como chegar numa editora? Como ser publicado pela primeira vez? Busco editoras que abrem editais? Tento autopublicação? Pesquiso catálogos e me jogo para tentar editoras maiores? Quando posso considerar meu texto pronto?" A cabeça não para tentando decidir entre essas portas que não são poucas...

 

Receita não há. Mas conversei com alguns profissionais do mercado editorial buscando dicas e conselhos para autores estreantes.

 

Alex Andrade, escritor, editor da Besouros Abstêmios, criador do podcast Conta um conto, e semifinalista do Prêmio Oceanos 2023, acredita que a melhor dica é ter paciência, olhar atento aos concursos literários, procurar se aproximar de outros escritores e criar elos que possam abrir novas oportunidades. E sugere ter uma rede de leitores para avaliar a obra, apontar detalhes e olhares diversos sobre o texto escrito.  

 

Ruben Perez-Buendía, sociólogo, escritor, professor e pesquisador mexicano, diz que o mais importante é não esquecer a origem, o motivo e o sentido da sua escrita: “Quando escrevemos para crianças e jovens, essa força e crença que temos de comunicar algo que eles precisam saber é fundamental. E é dessa inquietude de nunca perder de vista o que queremos transmitir que surge um texto mais completo.” Quando chega o momento de buscar a publicação, Ruben aconselha que o autor não pode se deixar levar pelo desespero ou pelo desejo de fama ou dinheiro. Vale buscar concursos ou convocatórias de pequenas editoras e também contar sua história a grupos de crianças e jovens ou a professores. Essa interação é um momento de aprendizagem, uma trilha que ajuda a escrever cada vez mais e aprofundar o estilo, ajuda a alimentar a própria escrita.

 

Sobre considerar o texto pronto, Rubén diz que há um momento em que é preciso largar o texto e seguir aprendendo no caminho: “Solte o texto com tranquilidade e convicção, confie no que escreveu e lhe deseje boa vida. E não pare de ler, de ouvir e de conversar porque isso é o que alimenta a alma de um escritor.”

 

Já com Mariana Elia, jornalista e editora de infantojuvenil do grupo Ediouro, a prosa foi longa e trago aqui suas considerações e conselhos para o autor em desespero.

 

 

Qual dica você daria para um autor estreante, e provavelmente em bom grau de ansiedade, que vai enviar seu tão amado primeiro livro para uma editora?

Acho que o principal é fazer uma boa apresentação, uma boa defesa, que fale do livro, que tenha uma sinopse, mas que também mostre o que aquele livro traz além da história. Pensando no livro infantil: Tem um tema que é interessante para determinada faixa etária? Mexe com algo de interesse das crianças ou tem uma pegada mais voltada para educação, para escolas? Porque os professores se interessariam pela obra ou porque ela se destacaria aos olhos dos pais?  O que nessa obra gera identificação tanto para o leitor criança como para quem compra? Qual o diferencial desse livro, o que ajuda a criança a se entregar para essa leitura?

Acredito que é importante ter uma proposta bem fundamentada e, claro, falar do autor, quem é, se está começando, o que chancela esse autor a escrever sobre esse tema, sua formação.

E ter paciência... Porque o caminho é longo. As editoras demoram e demoram muito para responder, demora até chegar na pessoa certa, demora para conseguir publicar... É preciso trabalhar um pouco essa longevidade do processo de edição.  Se você faz um livro hoje, ele vai ser publicado daqui a muito tempo. É preciso entender isso, saber esses caminhos.

 

E a dica do que não fazer?

Cuidado para não parecer que você já tem tudo sobre seu livro na cabeça e não precisa de um editor. Por exemplo, muita gente chega com a ilustração pronta. Para editoras grandes isso pode ser um tiro no pé. Talvez funcione para editoras menores ou aquelas que têm um catálogo menor de livro infantil, que não têm muitas opções de ilustrador. Mas para editoras maiores é melhor sugerir o que você imagina de estilo de ilustração e deixar claro que você está aberto a conversar com o editor. Se você já chega com o pacote todo pronto, pode parecer que não está tão aberto ao diálogo. Acho interessante refletir sobre isso.

 

E a trilha para essa publicação? Qual caminho escolher?

É importante pensar o que você quer com seu livro. Quer que entre em programa governamental? Quer boa visibilidade em livrarias? Quer chegar bem em escolas? São editoras específicas com diferentes formas de trabalhar. Tem editora que vai trabalhar muito bem livraria e não vai trabalhar escola, por exemplo.

Aconselho também a buscar outros caminhos antes de tentar uma editora grande. A gente, por exemplo, raramente trabalha fora de agência literária. Temos nossos autores, temos pessoas que vamos descobrindo, mas se chega por um e-mail de SAC, por uma mensagem de Instagram, de qualquer coisa assim, é mais difícil porque é muita gente chegando e esse volume dificulta muito a triagem. Então, ser representado por uma agência pode facilitar nessa comunicação de chegar numa editora. É um caminho interessante para ter uma leitura crítica, uma leitura sensível da sua obra e tentar entrar naquela cartela de autores. Claro que isso exige um investimento, mas, se for possível, é um caminho a pensar. Pense também nos caminhos de prêmios e concursos, isso vai dando chancela pro autor. Se você tiver um autor já mais conhecido que aposte na sua obra e queira abrir essa porta também é bom, porque esse meio editorial funciona sempre na base da confiança.

 

Algum conselho final?

Existe aquele mito de que literatura infantil é mais fácil, né? Muita gente sabe bem que não é, mas muita gente acredita porque o texto é mais curto. Mas é o contrário, é mais complexa exatamente por ser um texto mais curto. Muita gente acha que pode começar com a literatura infantil por ser mais curto, mas na verdade se vê no problema de escrever um texto que seja interessante, atraente para a criança, que não seja didático. Meu conselho seria: Transmita sua ideia sem ser “tatibitate”, sem dar tudo mastigadinho, não entregue tudo pro leitor.

 

Caro autor estreante ansioso, junte todos esses conselhos, reflita, abra uma cerveja, tome um café ou uma taça de vinho e junte-se ao clube. Após 30 anos de mercado e apenas 1 ano do primeiro livro eu afirmo que dá trabalho, mas é inesquecível o momento do primeiro autógrafo. Vale todo o desespero! Palavra de assessora de imprensa, que virou livreira, que virou editora, que virou autora, mas segue sendo de tudo um pouco. 

Entrevista Mariana Elia
Bárbara Anaissi.jpeg

Sou jornalista e especialista em formação do leitor em múltiplas linguagens. Estou no mundo dos livros desde 1993 atuando em diversas áreas. Em 2015 fundei a Macondo Casa Editorial onde, com minha sócia e um grupo de parceiros e amigos, trabalho projetos editoriais e educacionais que despertem afetos e sorrisos. Tenho textos nas coletâneas Biblioteca e ações de leitura e Quantas portas cabem numa porta?.Livros, cachorros, sol, mar, vinil, conversas e amores me ocupam por inteiro.(@barbaraanaissi / @macondocasaeditorial)

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