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prosa e verso

muito do que temos a dizer   

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Esse é nosso espaço dedicado aos textos literários.  Nesta terceira edição, a proposta lançada foi  novamente a de explorar os sentidos nos textos curtos. Já ouviu falar em microliteratura?

Apresentar narrativas completas em poucas palavras é  um grande desafio .

Nossos convidados esbanjam talento em Prosa e Verso.

O encontro
 
Perguntou ao pai para onde vão as pessoas quando morrem. Não queria acreditar que o fim fosse o fim. Imaginava sempre que haveria de ter um depois do depois. O pai lhe disse, então, que as pessoas viram poeira. Que estarão por aí, em toda a parte, dispersas no ar.

Numa manhã de inverno, lem-brou-se de sacudir o cobertor e pegar o pote antigo de maionese da mãe. Abriu com cuidado a tampa alaranjada e guardou lá dentro a avó.

Para sempre.


Maíra Ramos
@mai_fonseca_ramos

* texto publicado originalmente no livro

O Vendedor de Sofás (ed. Ipê Amarelo)

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Sou mãe, escritora em eterna formação e admiradora do céu nos fins de tarde. Também formada em direito e mestra em literatura, gosto de me aventurar pelo mundo mágico do “Era uma vez”. Já publiquei cinco livros para a infância sem nunca me esquecer da criança que um dia fui. É para ela que sigo escrevendo. Para saber mais um pouco sobre mim, vem me visitar no Instagram.

Torpor


Se alguém tivesse notado
Que o vento nem sempre assobia
Que a bruma rouba as sombras
Que culpa se esconde atrás das cortinas

 

Se alguém tivesse notado 
Que a lua se despe no mar
Que o tempo não pede licença
Que ninguém nos ensinou a respirar

 

Se alguém tivesse notado
Que as rugas dos velhos trazem recados

 

* inspira*

* suspira*

 

O tanto que podia ter mudado
Se a gente tivesse notado


Laura Vasques de Sousa
@lauravasquessousa

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Nasci em Lisboa. Sou licenciada em Biologia Aplicada aos Recursos Animais (FCUL) e em Cardiopneumologia (ESTeSL), profissão que exerço.  Desde cedo, estive rodeada de livros, leituras e escritas, mas apenas depois dos 40 anos tive a lucidez de lhes fazer a vontade e espalhar minhas palavras por aí. Sou autora do blog “Espólio” (lauravasquessousa.blogs.sapo.pt) e tenho contos publicados em revistas e plataformas digitais. Em 2023, venci o 12º Concurso Literário da Academia Madureirense de Letras com o conto “Vácuo” e fiquei em 3º lugar no XXVIII Prémio Literário Hernâni Cidade com o conto “Os Pardais”. 

Reinventar a coragem
 
O relógio, ainda vivo no cadáver do companheiro, martelava os vinte minutos de silêncio. Amarinhou por cima dos corpos pegajosos, pedaços de carne quente, resquícios de jovens alegrias de há um mês. No cimo da vala, avistou o outro lado. Da fronteira e da vida. A nobreza ou a deserção. A poucos metros, o buraco na rede, o celeiro bafiento do professor de História, o jardim da namorada. A memória da casa. Incorreto? Apertou uma irreconhecível mão decepada. “Prometo merecer cada batida do meu coração! Por nós!”. Esvaziou a mente do dilema e deu o seu salto no escuro. Um salto para a vida. 


Paula Campos
@anapaulahortacampos 

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Nasci em Coimbra, Portugal, mas tenho os sonhos pelo mundo. Cedo me apaixonei pela leitura e pela escrita, pelo que fiz profissão destas vontades. Para além de ser professora de Português, dinamizo, há cerca de quatro anos, o Clube de Leitura Livro Terapia e o Clube de Escrita Criativa Cozinhar Palavras. Já organizei atividades literárias na Biblioteca Municipal de Coimbra e orientei tertúlias de poesia. Escrevo, regularmente, para jornais e revistas. E os sonhos sempre na leitura e na escrita.

Auto de resistência
 
Subiu as escadarias carregando o prêmio. Lá, onde a água era levada a balde e os fios de luz serpenteavam clandestinos, encontraria o sorriso da mãe. Cruzou montanhas de descartado, córregos de esgoto, prados de sucata. Tinha pressa. Na voz masculina, a ameaça, o insulto e o teco. A sandália surrada escapou-lhe do pé feito pétala murcha. O chão se dissipou. Foi engoli-do por uma pilha de sonhos incomple-tos, abandonados em becos e vielas. O silêncio do corpo revelava a partida prematura. Nas mãos, o livro de poesias conquistado no desafio do repente; na camisa, a promessa tardia grafada em língua estrangeira: liberdade.


Raquel Castro
@leiturasfelinas

* texto publicado originalmente no livro
O Vendedor de Sofás (ed. Ipê Amarelo)

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Sou mestre em Letras, amante de livros, gatos, plantas e música. Meu romance, À hora dos cachorros (Ed. Caravana), saiu no fim de 2023. Na literatura, busco explorar os dramas do ser humano comum no mundo contemporâneo, tendo como foco a metrópole, o trabalho e as relações familiares.  Participo do Sarau Poesia Andarilha, sob coordena-ção de Ninfa Parreiras. Como professora, desenvolvo projetos de mediação de leitura e escrita afetivas. 

Silêncios
 
Dentro de mim
tem silêncios
gritando.
Ruídos não manifestos
fazendo barulhos
pulsantes.
Do lado de fora
tem barulhos
calados.
Vozes emudecidas,
poluição sonora
de não palavras de mágoa.
Dentro de mim
palavra
calada.
Fora de mim 
abafadores
ensurdecedores.


Cacá Silveira
@umamarianapoesia

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Nasci em em Carmópolis de Minas (MG). Sou mulher, mãe de duas, historiadora de formação e escritora por paixão. Encontrei na escrita uma forma de existir no mundo. Integro o Coletivo Escreviventes e tenho poemas e contos publicados em revistas literárias e no perfil @umamarianapoesia.

o outro

 

a gente às vezes quer que o amor
seja raia 
daquela da infância,  que a gente
tenta colocar em linha curta
e descer
            correndo
                           a ladeira

 

para ver se, controlada, ela sobe
mas amor não pode ser raia
amor é  

 

vento  
calmo 
tempestade

 

amor é sentido

 

nem brisa se controla  
amor é paciência  

é esperança que as circunstâncias sejam favoráveis à vela 
desejo que o
barco não vire,  
mas, 
quando virar,  
que deixe estar o tempo 
que a brisa volta a soprar  

 

amor não é raia.
amor não é vela.
amor é paciência  
amor é o outro.

     

Pollianna Freire
@freirepdfs

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Nasci no sertão da Bahia e há dez anos vivo em Brasília,  cidade que se tornou um dos meus lugares preferidos no mundo depois que, aleatoriamente, escolhi o quadradinho para cursar mestrado e doutorado em Literatura.

Cheiros
 
Há quem diga que a vida são cheiros: Chulé, flor, fruta, terra molhada, café Amor que deixa até suor perfumado Madeira, gasolina, comida na panela Alegre brisa de mar, triste rio poluído Em mim, que nasci quase sem olfato, A vida percorre caminhos em que Cheiro não é memória, é silêncio!


Fabrício Freire Gomes @fabriciogomes1979 

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Sou jornalista de formação e, mesmo quando segui outros rumos profissionais, nunca abandonei as palavras. Ao me tornar pai da Maria Clara, em 2012,

a escrita passou a pulsar por um caminho que jamais pensei que teria sensibilidade para trilhar: a literatura infantil. Desde 2020 sou aluno de oficina literária da escritora Anna Claudia Ramos e participei da antologia "Quantas portas cabem

numa porta" (Ed. Casa do Lobo).
 

Chegada
 
Na carta Tião avisou que há de chegar pra Folia de Reis. Quatro, cinco anos que Bertolino espera o filho voltar de Goiás. Na escura noite feliz, a lua cres-cente clareia a porta aberta.
–    A benção, meu pai!
Silêncio sagrado.
–    Isso é hora de chegar em casa?
Deus te abençoe.


Diogo Tadeu @diogotadeusilveira

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Sou escritor e advogado. Mineiro, filho da costureira Maria e do professor Amós. Nasci em Divinópolis e passei minha infância e adolescência em Carmópolis. Estudei Letras e Direito em Belo Horizonte, me casei com a Simone e, hoje, moramos em Oliveira. Sou autor do livro Cronicando.

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