prosa e verso
muito do que temos a dizer
Esse é nosso espaço dedicado aos textos literários. Nesta quarta edição, a proposta lançada foi novamente a de explorar os sentidos nos textos curtos. Já ouviu falar em microliteratura?
Apresentar narrativas completas em poucas palavras é um grande desafio . Desta vez, com o tema silenciamento e censura.
Fogo em alto mar
Durmo.
Mas não sonho o sono dos justos porque sou injusta e justaposta.
Durmo.
Mas não sonho o sono dos justos porque sou insana e fantasmagórica.
Durmo.
Mas não sonho o sono dos justos porque sangraram o sangue dos meus antepassados no lastro, no mato.
Durmo.
Mas não sonho o sono dos justos porque apagaram meu passado e rasuraram meu futuro.
Durmo.
Mas não sonho o sono dos justos porque clamo e não tenho respostas.
Durmo.
Mas não sonho o sono dos justos porque não tenho palavras e não posso escrever.
Durmo.
Mas não sonho o sono dos justos porque tenho um grito mudo dentro de mim.
Dayane Teixeira
@sy_jigeen
* texto publicado originalmente no livro
Corpo-concha (ed. Folheando)
Sou mulher cearense tentando resgatar meus laços ancestrais, formada em Letras, atuante na área de museus, membro do Coletivo Tradição Viva, pesquisadora independente de Literatura Africana, Negro-brasileira e Indígena brasileira, idealizadora da página literária @sy_jigeen e também autora do livro de poesias Corpo-concha.
Ardência
Não vá dizer a uma mulher
O que ela deve escrever ou ler,
como deve falar,
de que forma se comportar,
o que vestir,
a que horas sair,
com quem andar,
dormir,
acordar.
Guarda esse olhar
de quem só sabe julgar, pois nas nossas palavras loucas ou santas,
na nossa vida
escrita em linhas
retas ou tortas mandamos nós.
Nem tente nos
mandar pra fogueira.
A fogueira somos
nós mesmas.
E não há quem
apague
uma mulher
que aprendeu
a dançar
em volta
do próprio fogo.
Viviane Lucas
@contosdaluanova.
Sou psicóloga, professora e escritora. Escrever é minha forma de interagir com o mundo, desde sempre. Publiquei Andarilha (2022) e Um lugar pra guardar imensidões (2023), ambos de poemas, pela Lura Editorial. E Por outros olhos (2023), um livro para a infância, para gente pequena e grande. Participei também das antologias: Crônicas da Manhã e Onde canta o Sabiá, (Lura Editorial) e Amazônia (Selo Off Flip) e sopro minhas palavras no instagram @ contosdaluanova.
Não se cale
boca fechada não entra mosca
dizia o ditado
nem mais nem menos
mas à teimosia espreitava
algumas palavras
nada de régua
não caibo em opiniões
não quero
não me encaixo
falei e está falado
já dizia minha mãe:
não se cale
escute e depois, fale
Leila Fernanda Arruda
@leilafernandaarruda
Gosto de saber que sou uma bordadora do pensar. Sou servidora pública e também escritora e contadora de histórias. Agora tenho me aventurado pelo mundo da ilustração. Faço parte do Coletivo Teia Literária Vozes desde a sua fundação e tenho textos nas antologias Ecos da resistência (2021), Cartas para o futuro (2022), Mulherio das Letras Portugal (2022) e Poetize (2022). Escrevo também sobre as autoras do coletivo e as teias que nos unem no perfil @teialiterariavozes