O povo europeu quando chegou por cá achou por bem matar Jurupari, alimentar Tupã e transformar as vivências indígenas em fantasias abomináveis, cômicas e sem importância. Nasceu aí a banalização da sabedoria dos povos indígenas – sendo que, para eles, indígenas nem povo eram.
A palavra folclore surgiu como referência à sabedoria do povo. Esse saber anônimo, aceito coletivamente e passado adiante oralmente. Coisa linda. À margem das ciências e das grandes religiões. Apenas entretenimento ou espanto popular. Muita coisa entrou no balaio; finalmente aí nosso indígena virou povo; atração peculiar. Tanta coisa pro europeu banalizar, né?
O contrário de civilização em qualquer dicionário é barbárie, atraso, subdesenvolvimento. Está certo isso, gente? Vai lá procurar a etimologia da palavra civilização e volta aqui pra me dizer que não. Os povos indígenas não seriam civilizados. Ainda bem. Graças às entidades da floresta.
Krenak vem falando há tempos sobre o conceito equivocado de civilização. O que o formato das urbes e o desenvolvimento econômico atual têm de evoluído, afinal? Onde chegamos com eles? Os povos indígenas estão há anos à frente do conhecimento do que é ser humano nesse planeta e é através da literatura oral, do entendimento de suas vivências, que eles têm assegurado a transmissão dessa sabedoria nada folclórica.
O que há de folclórico nos conhecimentos indígenas – ou de qualquer outro povo autóctone, como os povos africanos? Pensemos. O que há de menos importante nas literaturas orais e nas entidades dos povos indígenas? Como ressignificar as celebrações folclóricas e o próprio conceito de folclore?
Eu continuo exercitando essa crítica em meu pensar e agir. É difícil decolonizar a mente, mas é possível. Dia desses, a prof. Dr. Lilian (@experiencialiteraria) fez em seu Instagram, alguns questionamentos e trouxe a voz de Julie Dorrico.
"Folclore é esvaziamento das espiritualidades indígenas; seria o mesmo que dizer Ave Maria faz parte do folclore, mas ninguém fala porque temos a religião de colonização no poder diminuindo as nossas."
Nada mais pontual.
Sigamos apreciando a cultura popular, sem diminuir as nossas de povos originários e tradicionais.
Eu indico:
- Para uma educação decolonial : @profatassi
- Para repensar a humanidade, os livros de @_ailtonkrenak
- Para mergulhar na oralidade amazônica o podcast de @opavulagem
- Para uma coletânea de conversas sobre folclore @folclorebr
- O livro Pequenas Guerreiras de @yaguareyama_escritor e @borges_taisa para se deliciar.
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